Introdução
A Santa Missa é a reprodução do sacrifício de Cristo no
calvário. Mas, o que realmente aconteceu no calvário para que Jesus Cristo
pedisse a nós que continuássemos celebrando até o final dos tempos em sua
memória a Santa Missa[1]? Neste breve texto pretendemos evidenciar os
principais pontos que envolvem a celebração eucarística, mostrando desta forma
o porquê ela é o centro de nossa fé.
Contextualização
Deus nos criou e nos concedeu muitas graças que somente o
ser humano possui, entre elas a possibilidade de amar e ser amado, a capacidade
de voltar-se para o criador, de ser feliz. No entanto, mesmo com essas
capacidades o homem virou-se contra Deus preferindo ir contra os projetos
divinos [2]. Na ilusão de igualar-se ao criador, a criatura provocou a sua
própria ruina e, desde então, cada homem possui a mancha do pecado original,
pois conhecendo o bem assim como nossos primeiros pais, praticamos o mal,
ferimos o projeto divino para nós que foi nos dado com tanto amor.
O homem tendo virado as costas para Deus necessitava de
uma remissão. A marca do pecado original não permitia que o homem voltasse para
Deus, afinal tudo de bom que o criador tinha oferecido ao homem e a mulher fora
negado, uma barreira intransponível foi erigida entre ambos, separando a
criatura do criador. Após isso, de várias formas tentamos – sem sucesso – agradar
a Deus como de fato ele merece [3], no entanto, era preciso que Ele nos desse
um novo coração que não fosse de pedra, mas de carne, era preciso um espírito
novo[4].
A barreira que separava o homem de Deus tinha que ser
derrubada, porém a culpa do homem superava as suas forças. Era preciso que o
próprio Deus, que nunca “cessa de atrair o homem para Si” [5] realizasse este ato
de amor. Ao assumir os nossos pecados [6] e morrer na cruz, Jesus abre
novamente o caminho que une o homem a Deus [7] nos salvando assim da morte do
pecado. Esta foi a forma que Deus escolheu de demonstrar quão grande é o seu
amor por cada homem, de fato Jesus deu a vida por mim, por você, por todos; se
fosse necessário morrer tantas vezes quanto são o número de almas, Jesus assim
o faria, isto é o Amor. Amamos a Deus quando entendemos que ele nos amou
primeiro[8].
Jesus nos reconcilia com o Pai [9] e ainda nos concede a
graça de adentrar um dia no paraíso, não basta nos remir ele nos dá a vida
eterna na presença de Deus. Primeiro Jesus nos mostra o caminho [10] e por fim
ele abre as portas para nós [11], esta missão é completada em sua paixão, morte
e ressureição; tal acontecimento marca a plenitude dos tempos e é tamanha a sua
importância que celebramos todos os dias até o final dos tempos. Jesus “Nascendo da Virgem Maria, Ele renovou a antiga condição
humana; com a sua morte destruiu os nossos pecados; com a sua ressurreição
conduziu-nos à vida eterna; e na sua ascensão abriu-nos as portas do céu.”
(Prefácio do Tempo Comum IV), por isso cantamos numa só voz: Santo, Santo, Santo.
A Santa Missa
Na Santa Missa – como no calvário – Jesus se oferece ao
Pai por nós num sacrifício perfeito que nos dá a salvação. Toda missa é a
reprodução do único sacrifício [12] redentor ocorrido no calvário, já que em
sua essência o sacrifício do calvário e o sacrifício eucarístico são o mesmo
sacrifício, a diferença é que, enquanto no calvário o sacrifício se dá de forma
cruenta, com o derreamento de sangue, no altar da missa o sacrifício é
incruento, ou seja, Jesus não sofre novamente, mas continua se entregando ao
Pai por nós. Em resumo, o modo do sacrifício se altera, mas a substância é a
mesma.
Deus, de forma admirável perpetua o sacrifício de Cristo
no calvário quando se celebra a Santa Missa “[...] a fim de realizar por eles
(os homens) uma redenção eterna [...] quis deixar à Igreja, sua esposa muito
amada, um sacrifício visível (como o reclama a natureza humana) em que seria
representado (feito presente) o sacrifício cruento” (Conc. De Trento: DS 1740).
A Eucaristia é este sacrifício visível já que no ato da consagração ocorre a
transubstanciação, que é a transformação do pão e do vinho em corpo e sangue de
Cristo dado “para a salvação do mundo” (Jo 6, 51). A forma das espécies continua
as mesmas, porém substancialmente estão presentes o “Corpo e o Sangue
juntamente com a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por
conseguinte, o Cristo todo” (DS 1651).
A Eucaristia é “fonte e ápice de toda a vida cristã” (LG
11) pois o amor de Cristo se torna presente em cada Santa Missa, é o
“Santíssimo Sacramento, porque é o sacramento dos sacramentos.” (CIC 1330), é
ação de graças “as obras de Deus: a criação, a redenção e a santificação.” (CIC
1328), é o “Memorial da Paixão e da Ressureição do Senhor (CIC 1330), é o “Santo
Sacrífico, porque atualiza o único sacrifício de Cristo Salvador” (CIC 1330), é
“Comunhão, porque é por este sacramento que nos unimos a Cristo, que nos toma
participantes de seu Corpo e de seu Sangue para formarmos um só corpo.” (CIC
1331).
Diante de tão grande mistério nós devemos nos submeter a
sabedoria de Deus que se faz tão pequeno por amor. Com desejo ardente de
agradar a Deus participemos com fé fervorosa em cada Santa Missa. Pedimos
Virgem Maria, a ti e aos santos que nos ensinem a amar o Santo Sacrifício da
Missa e a Jesus presente na eucaristia.
“Nunca a língua humana poderá enumerar os favores de Deus
que acontecem durante o Sacrifício da Missa. O pecador se reconcilia com Deus;
o homem justo se torna mais reto; os pecados são apagados; os vícios
eliminados; as virtudes e os méritos crescem, e as artimanhas do demônio são
frustradas. ” São Lourenço.
[1] "[...]fazei
isto em memória de mim" (Lc 22, 19)
[2] “A mulher, vendo
que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado
para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu
marido, que comeu igualmente. ” (Gn 3, 16)
[3] O Antigo Testamento
conta o drama do povo escolhido que buscava ser fiel as revelações de Deus, mas
é somente no Novo Testamento que a “pedagogia de amor” se torna plena com a
vinda de Jesus Cristo.
[4]
"Eu vos darei um coração novo e em vós porei um espírito novo; tirarei do
vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne." (Ez 36,
26)
[5] “Deus não cessa de
atrair o homem para Si” (CIC 27)
[6] “Aquele que não
conheceu o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornássemos
justiça de Deus.” (2Cor 5, 21)
[7] "Nisto se
manifestou o amor de Deus para conosco: em nos ter enviado ao mundo o seu
Filho único, para que vivamos por ele. Nisto consiste o amor: não em termos nós
amado a Deus, mas em ter-nos ele amado, e enviado o seu Filho para expiar os
nossos pecados." (1Jo 4, 9-10)
[8] "E eis que o
véu do templo se rasgou em duas partes de alto a baixo" (Mt 27, 51). O véu
do templo é a grande cortina que separava os sacerdotes do “Santo do Santos” no
santuário, em Jesus todos novamente têm acesso a Deus. "Esperança esta que
seguramos qual âncora de nossa alma, firme e sólida, e que penetra até além do
véu, no santuário onde Jesus entrou por nós como precursor" (Hb 6, 18-19)
[9] "Esta é a
justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo, para todos os fiéis (pois não há
distinção; com efeito, todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus),
e são justificados gratuitamente por sua graça; tal é a obra da redenção,
realizada em Jesus Cristo.” (Rm 3,22-24)
[10] “Eu sou o caminho,
a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim." (Jo 14, 6)
[11] “Eis que vejo” –
disse ele – “os céus abertos e o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus” (At
7,56)
[12] "Tal é, com
efeito, o Pontífice que nos convinha: santo, inocente, imaculado, separado dos
pecadores e elevado além dos céus, que não tem necessidade, como os outros
sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro pelos pecados
próprios, depois pelos do povo; pois isso o fez de uma só vez para sempre,
oferecendo-se a si mesmo." (Hb 7,26-27)
Felipe Fornazieri. Consagrado
da Comunidade Católica Emanuel